leite no telhado, virou febre entre a garotada. Agora, esse ente imaginário foi convocado por odontopediatras para incentivar as crianças a doar os dentinhos para bancos de dentes humanos e para pesquisas científicas, como fontes de células-tronco. “O dente é um órgão e, a exemplo de outros, pode ser doado. Qualquer dentinho pode ser doado, independentemente do estado e do tempo”, defende José Carlos Pettrossi Imparato, coordenador do Banco de Dentes Humanos da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP).
Os bancos de dentes recebem qualquer dentinho, mesmo os que estão ressecados por estarem há muito tempo guardados. Já para a pesquisa de células-tronco, a doação deve ser feita no máximo 24 horas depois de arrancados. O movimento pela doação dos dentes de leite é reforçado no livro O troca-troca dos dentes, de Dóris Rocha Ruiz e Maria Inês Quintanilha. Com uma linguagem lúdica e ao mesmo tempo didática, elas explicam para as crianças a troca da dentição, um marco na vida de todos nós.
A obra conta a história da fada dos dentes Joaquina e seu ajudante, Porcoleta, que levam um dente de leite que amoleceu e caiu e o trocam por um lindo presente da natureza. Lá, no mundo encantado, as fadas cuidam do dente, depois voltam para a cidade e o entregam a um dentista muito especial, que o reutilizará em pesquisas.
É um momento alegre para os pais e parentes, que se encantam com as janelinhas, e também para a criança, que fica à espera das prendas. Quem não se lembra de quando perdeu o primeiro dente e a euforia ao decidir qual seria a destinação? Muita gente jogou o dente no telhado; outros tantos o colocaram embaixo do travesseiro na esperança de que a fada do dente o trocasse por uma moeda a quem mandou fazer colares ou guardou em caixas como se fosse um tesouro. É o caso de Sofia de Castro, de 7 anos, que mantém os dentinhos em uma caixinha.
Convencer as crianças a doar os dentes de leite, na opinião de José Carlos, não é uma tarefa tão difícil. “Dizemos para as crianças que a fada do dente vai buscar os dentinhos e trazê-lo para o banco de dentes. A fada é uma parceira do banco, uma funcionária da faculdade de odontologia”, brinca o especialista. As autoras reforçam que a doação não tira em nada o encanto desse momento mágico para a criança.
Ao longo da história, elas explicam por que os dentes caem e também abordam os aspectos psicológicos envolvidos nesse momento. “Às vezes, o amigo já trocou e ele ainda não. Mostramos que cada criança tem o seu momento”, afirma Dóris. Em geral, os primeiros dentes caem por volta dos 6 anos. A troca segue até os 12 anos.
Fonte: Jornal O Estado de Minas