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Falta de higiene bucal é pior que fumar

O cigarro pode causar aproximadamente 50 doenças diferentes no ser humano dos mais distintos tipos. Mas, em relação ao câncer de boca, ele não é o único nem o maior vilão como muitos acreditam. Com a proximidade do dia 31 de maio, em que se comemora o Dia Mundial de Combate ao Fumo, vale à pena mostrar que, apesar de ser considerado por muitos pesquisadores como o maior causador do câncer de boca, nesse caso o cigarro não tem o papel principal.

Há muito tempo o foco em relação ao principal causador do câncer de boca anda desregulado. Entre os vários fatores, além do cigarro e das bebidas alcoólicas, é importante ressaltar que o HPV e a falta de higiene da boca também favorecem o aparecimento dessa doença. E mais: A falta de higiene bucal é pior que fumar. Mas, dos quatro causadores do câncer de boca mencionados, a higiene de boca talvez seja o menos debatido pela Odontologia.

Esse fato gera reflexões importantes nesse momento, em que a prevenção é cada vez mais discutida e necessária. Afinal, a higiene bucal traz uma série de benefícios para o paciente. Além disso, com uma boa higiene da boca, pode haver menos impacto econômico no Sistema Único de Saúde (SUS), onde chegarão menos pacientes com câncer de boca. Neste contexto, os dentistas têm um papel fundamental.

Trabalhos mais contemporâneos têm mostrado, com argumentos científicos, o papel da higiene bucal no desenvolvimento do câncer de boca. No artigo, com o título “Dental state in patients with headandneck cancers”, publicado na edição deste mês de maio na revista “Cancer Radiothérapie”, pesquisadores da Faculdade de Odontologia e da Faculdade de Medicina de Estrasburgo, na França, mostram que os pacientes que estão mais sujeitos a ter câncer de boca são justamente aqueles que têm problemas de saúde bucal decorrentes da falta de higiene da boca.

E por que a higiene oral é pouco debatida pelos dentistas como principal causador do câncer de boca? É preciso ressaltar dois pontos nesta situação. O primeiro procedimento do dentista quando atende um paciente, depois de fazer o exame clínico completo, deve ser ensinar como se higieniza a boca corretamente. Depois disso, com todo o tratamento odontológico feito, o dentista precisa monitorar o paciente de seis em seis meses. E esse monitoramento não é apenas avaliar os dentes. É preciso fazer o exame físico extra e intra oral, palpações necessárias na região de face e cervical, avaliação de todos os tecidos moles da boca, o exame preventivo de boca para verificar se a quantidade de microrganismos na boca está controlada e, por último, verificar os dentes.

Quando o cigarro é colocado como principal causador do câncer de boca, a responsabilidade dos dentistas passa a ficar mais aliviada. É muito mais fácil delegar unicamente para o paciente a responsabilidade de se proteger. Afinal, só ele pode fumar ou não. Mas essa conduta está equivocada. É preciso provocar mudanças de postura nesse sentido — tanto de dentistas quanto de pacientes. Cabe aos dentistas a avaliação mencionada. E cabe ao paciente entender que o monitoramento periódico feito a cada seis meses pelo dentista não é uma simples visita para dar uma olhadinha na boca e fazer uma limpeza. Isso é prevenção que serve para pacientes de todas as idades. A manutenção da saúde bucal não previne apenas o câncer de boca. Ela gera uma série de outros benefícios para o paciente.

A tentativa de empurrar exclusivamente para o paciente a responsabilidade da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de boca fez surgir uma das maiores aberrações da Odontologia: o auto-exame de boca. Como já constatado, não existe nenhuma prova de que esse procedimento é útil. Certamente, se mais dentistas passarem a ter uma postura ativa, com o monitoramento frequente dos pacientes, eles terão uma saúde bucal muito melhor e um risco menor de ter doenças na boca — entre elas, o câncer de boca.

Fontes: Expresso MT