De chupeta à cárie: como cuidar da saúde bucal do seu filho

A saúde bucal das crianças sempre foi motivo de preocupação para os pais. Quando começar a escovação? Como devem ser os primeiros cuidados? E o aparelho ortodôntico? Será que eles são recomendados antes mesmo da dentição permanente? Para esclarecer estas e outras dúvidas, confira as orientações da odontopediatra da odontopediatra Maitê Soares e saiba como agir em diferentes situações:

Quando os dentinhos caem antes da hora

As crianças possuem 20 decíduos ou os chamados dentes de leite. São dez na arcada superior e dez na arcada inferior. O processo da perda dos dentes de leite ocorre naturalmente e de maneira fisiológica por meio da reabsorção da raiz do dente de leite pelo dente permanente, que irá erupcionar em seu lugar.

O início da troca dentária ocorre em média entre os cinco e sete anos de idade, e é uma fase que envolve grande ansiedade por parte dos pais e das próprias crianças. Porém, os dentes de leite podem cair antes do tempo fisiológico, ou seja, fora do período normal, por causa de algum trauma na região, como quedas, batidas na face ou até mesmo por lesões de cáries muito extensas. Esses casos devem ser avaliados e acompanhados, pois podem causar uma série de problemas como a alteração na posição de língua – atrapalhando a fala, mastigação e deglutição; perda do espaço ideal para o dente permanente – causando problemas nos encaixes dos arcos dentais; alteração dos dentes vizinhos para região da perda – favorecendo a um futuro apinhamento dental ou impactações dos dentes permanentes sucessores; e ainda causar algum dano psicológico na criança que, por ficar sem os dentes antes da fase em que os amigos ficarão, ficam inibidas socialmente.

Dentinhos a mais

Após todas as trocas e erupções, a dentição permanente contará com 28 dentes, desconsiderando os 3º molares (dentes do siso) que quando presentes totalizam 32 dentes. Qualquer dente que exceda estes números são chamados de supranumerários ou extranumerários, sendo que podem existir um único ou vários dentes a mais.

Os dentes extranumerários podem apresentar uma forma normal ou um formato que não lembra a anatomia dos dentes da região da boca em que ele se desenvolveu, e podem estar posicionados na cavidade bucal ou retidos no osso. O diagnóstico de um dente supranumerário é simples, pois ele pode ser detectado através de exame clínico de rotina, quando estiver posicionado na boca, ou por meio de radiografias e tomografias, quando o dente permanecer retido dentro do osso.

Quando não detectado a tempo, um extranumerário que está retido ao osso pode causar problemas na formação normal do arco dentário, como impedimento da erupção de dentes, deformação da arcada e até destruição das raízes dos outros dentes. A extração do dente supranumerário, associada ou não a outras formas de tratamento, é proposta em 90% dos casos.

Dentinhos a menos

A agenesia dental é uma anomalia dentária em que ocorre a ausência de um ou mais dentes. É quando o dente não se forma, ou seja, o germe dental não está presente. A teoria mais aceita para explicar a agenesia dentária é a alteração na expressão de genes específicos, sendo a genética a causa mais comum.

A anomalia pode acometer qualquer dente da arcada, os mais frequentes são os dentes do siso, seguido pelos 2º pré-molares e incisivos laterais. O diagnóstico é feito por meio de exame radiográfico. As crianças que apresentam esta alteração levam uma vida normal em relação à saúde bucal, porém quando o diagnóstico é feito em idade precoce, o profissional e os pais terão um maior número de possibilidades disponíveis para o tratamento. O tratamento deve ser compatível com a idade do paciente. A forma, a posição e a localização do dente ausente, a oclusão, a presença de apinhamento dentário e até a quantidade de osso na região da ausência são fatores que influenciam na decisão.

Dente de leite tem raiz sim!

Um dos maiores mitos da odontologia é que dentes de leite não têm raiz. Então sempre que falamos sobre endodontia de dentes de leite, que é o tratamento de canal, surge esta questão. Sim, os dentes de leite têm raiz, eles são estruturas anatômicas semelhantes aos dentes permanentes e possuem coroa, raiz e canais radiculares por onde a polpa dental se estende.

A cárie dental é um problema comum em dentes decíduos. Quando a cárie contamina a polpa, que é a parte viva do dente, a criança pode sentir fortes dores. Cerca de 75% dos dentes com cárie profunda apresentam comprometimento pulpar e, consequentemente, precisam de tratamento endodôntico. O material e as técnicas utilizadas são específicas para dentes de leite, já que estes ainda virão a cair para dar espaço para o dente permanente. E até que esta troca ocorra, o dentinho precisará ser acompanhado, para prevenir alguma situação adversa.

Visitas ao odontopediatra

O ideal seria levar a criança ao dentista entre os seis meses e um ano. Obviamente, nessa idade, pouco se tem a fazer em relação aos dentes das crianças, mas as orientações e as intervenções preventivas são fundamentais.

Geralmente, os pais levam a criança entre os dois anos e meio e os três anos, quando se completa a primeira dentição. Às vezes, porém, a criança chega ao consultório já com muitas cáries, porque eles não receberam orientação adequada no momento correto.

O padrão estabelecido é ir ao dentista a cada seis meses. Mas como nas crianças tudo acontece muito rápido, recomenda-se que as visitas sejam feitas de acordo com seu estágio de desenvolvimento, desse modo, a frequência pode variar de dois em dois meses para a aplicação de flúor, por exemplo, ou consultas que podem ser de três em três meses para acompanhar a erupção, ou a consulta de rotina que pode ser de seis em seis meses, ou seja, a frequência das visitas deve ficar a critério do profissional que atende a criança.

Higiene bucal do bebê

Os cuidados devem começar a partir do nascimento do bebê. No recém-nascido, a limpeza deve ser feita com uma gaze ou fralda umedecida em água limpa para remover os resíduos de leite. A hora do banho costuma ser o melhor momento. Na hora de enxugar o bebê, aproveita-se para limpar o dente com a fralda, gaze ou cotonete. Isso também é bom porque a criança se acostuma com o fato e a escovação passa a ser uma etapa agradável.

Com o nascimento dos primeiros dentes (por volta dos 6 meses), a fralda deve ser substituída por uma dedeira. Aos 18 meses, com o nascimento dos primeiros molares decíduos, a higiene deverá ser realizada com uma escova dental infantil sem creme dental ou com um creme dental sem flúor. O creme dental com flúor só deve ser utilizado a partir dos 2 ou 3 anos de idade, quando a criança for capaz de cuspir completamente o seu excesso.

Alimentação

Já se sabe que o açúcar e os carboidratos são responsáveis pela fermentação, diminuição do pH bucal e produção dos ácidos que originam as cáries, e é sabido também que geralmente os alimentos destas classes são os preferidos dos pequenos. O que vale a pena ressaltar sobre este assunto é o fato de que a criança pode sim comer de tudo, mas na hora certa. Doces, bolachas, pães, salgadinhos, chocolates e balas, por exemplo, não estão proibidos, mas devem ser consumidos nos horários das refeições e não ao longo do dia. É pior comer a cada dez minutos um desses alimentos do que comer todos juntos de uma só vez durante as refeições.

Outra coisa importante é a consistência do alimento. Quanto mais pegajoso, mais tempo ele vai ficar retido nos dentes. Outro fato importante é que a criança não deve dormir sem fazer a higiene bucal, ou seja, a mais importante das três escovações diárias é a escovação antes de dormir, pois durante o sono o corpo entra em um estágio metabólico mais lento, e boa parte das funções diminuem, desde a frequência cardíaca até a produção da saliva, que atua como “proteção” para os dentes, já que é a responsável por regular o pH da boca.

Chupetas e mamadeiras

Quando falamos sobre estes dois objetos, é complicado dar uma resposta categórica, já que em determinadas situações eles são objetos importantes. O que podemos afirmar é que todo hábito, quando duradouro, tende a alterar a formação da arcada dentária, prejudicar a musculatura da boca e o posicionamento da língua, mas isto depende de alguns fatores como a frequência e a intensidade do uso. Por isso, é indicada a suspensão do uso da chupeta e mamadeira o quanto antes, de preferência até os quatro anos de idade. Nestas situações, um odontopediatra é indicado para acompanhar e instruir a transição, pois todo processo de remoção de hábitos deve ser lento e gradativo.

Cárie na infância

A cárie é uma doença infecciosa causada por bactérias, que metabolizam restos de alimentos, principalmente açucares e carboidratos, produzindo ácidos que irão alterar o pH da boca e então tornam-se capazes de desmineralizar os dentes. A cárie aparece, inicialmente, como uma mancha branca e depois evolui para cavidades.

Na odontopediatria, a principal atenção é para a popularmente conhecida como cárie de mamadeira. A cárie precoce da infância é muito agressiva, de evolução rápida e provoca muita sensibilidade (dor), podendo causar a destruição dos dentes de leite em um curto espaço de tempo. E é uma doença que pode afetar a criança já no primeiro ano de vida, e que geralmente associada à persistência da amamentação durante a madrugada, seja ela natural ou artificial. Nesta situação, o acompanhamento odontológico pediátrico tem como objetivo manter a saúde bucal da criança e instruir os hábitos corretos para os responsáveis, evitando assim que a criança passe por episódios de dor, pois se não for tratada a tempo, pode evoluir e atingir a polpa do dente e até levar à sua perda.

Evitando o excesso de flúor

O uso de flúor na prevenção da cárie dental já foi comprovado de diversas formas. Podemos usar como exemplo políticas consolidadas como o uso do fluoreto no tratamento da água e a sua adição nos cremes dentais, porém, quando o flúor é ingerido existe o risco de termos dentes com fluorose.

A fluorose dentária é uma alteração que ocorre devido ao excesso de ingestão de flúor durante a formação dos dentes. Como consequência, têm-se defeitos de mineralização do esmalte, com severidade diretamente associada à quantidade ingerida. A fluorose causa alteração de cor do esmalte dental, que pode assumir uma tonalidade esbranquiçada ou exibir pequenas manchas ou ainda linhas brancas. Nos casos mais graves, adquire uma coloração acastanhada ou marrom, podendo haver perda de estrutura dental.

Atualmente, a maior causa de fluorose é a ingestão de produtos fluoretados em locais onde já existe água fluoretada, sendo que o mais comum a pasta de dente com flúor que muitas crianças engolem durante a escovação. O indicado é utilizar creme dental sem flúor até o momento em que os pais percebam que a criança já esta treinada para cuspir e não ingerir a espuma ou a pasta propriamente dita. Neste momento, com indicação do dentista e acompanhamento dos pais, pode ser feita a troca para pastas com flúor.

Acompanhamento do desenvolvimento

Atualmente o índice de crianças que necessitam de intervenção ortodôntica é crescente. Boa parte da população se preocupa com alterações dentais que causam problemas na estética, como por exemplo, o apinhamento dental – falta de espaço entre os dentes ou a presença de diastemas – sobra de espaço entre os dentes. Porém, as alterações estruturais, quando há alterações da oclusão dentária, geralmente são diagnosticadas por um profissional da área, já que estas alterações são mais complexas e o tratamento costuma ser mais longo. Quanto antes for feito o diagnóstico, melhor será o resultado do tratamento.

O acompanhamento odontopediátrico, além de ter todos os meios para cuidar da saúde bucal da criança, também é capaz de detectar estas alterações e definir o melhor momento para encaminhar a criança para avaliação ortodôntica.

Fonte: Portal Bonde

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